De acordo com Bruno Bettelheim, a versão da “Chapeuzinho Vermelho” escrita pelos Irmão Grimm tem um apelo e carácter psicológico. Este, muitas vezes, não identificado por um adulto, porém normalmente percebido por uma criança.
A história da “Chapeuzinho Vermelho” fala sobre uma menina, a Chapeuzinho Vermelho, assim chamada pois estava sempre com uma capa vermelha, feita pela sua avó. Efetivamente, a ação começa com a mãe da menina a enviá-la para casa da avó com o objetivo de lhe entregar comida, uma vez que esta se encontrava bastante doente. Logo de início, Chapeuzinho é avisada pela mãe de que não deveria desviar-se da estrada principal para não se perder, o que acaba por despertar uma súbita curiosidade na jovem.
No caminho até casa da figura materna, a protagonista é abordada por um lobo, que lhe pergunta para onde se dirige. Assim, com os dados disponibilizados pela Chapeuzinho, o lobo acaba por chegar primeiro a casa da avó, devorando-a e vestindo as suas vestes de maneira a enganar a menina. Posto isto, ao chegar, Chapeuzinho deita-se na cama com o intuito de fazer companhia a avó, mas só se apercebe que está a ser enganada tarde demais.
Após esta breve apresentação, percebemos que como Bruno Bettelheim explica, há uma dimensão psicológica à volta de todo o conto. Inicialmente, o autor revela os significados por detrás da aparente simplicidade da narrativa. Exemplificando, a capa vermelha, um presente da avó para a Chapeuzinho, esta é mais do que um mero adereço, sendo que o vermelho é a cor que representa emoções violentas, incluindo as sexuais, remetendo então para a maturidade sexual feminina.
Para além disso, o autor compara “Chapeuzinho Vermelho” com “João e Maria” diversas vezes. Esta comparação é feita para mostrar a inocência infantil dos irmãos, indo de encontro à maturidade da menina com capuz vermelho.
Adicionalmente, Chapeuzinho Vermelho tenta entender a natureza contraditória do homem vivenciando todos os aspetos da personalidade dele: as tendências egoístas, violentas e potencialmente destrutivas do ID (o lobo) e as propensões altruístas, sociais, reflexivas e protetoras do EGO (o caçador).
Contrariamente a Chapeuzinho, que cede às tentações do ID, e com isso trai a mãe e a avó, o caçador não permite que as suas emoções o dominem. O seu desejo imediato quando encontra o lobo na cama da avó, é matá-lo, mas o seu EGO afirma-se, apesar das instâncias do ID, e o caçador percebe que é mais importante salvar as duas meninas do que ceder à raiva. Com efeito, o caçador controla-se e em vez de matar o animal abre cuidadosamente a barriga do mesmo, salvando as duas figuras femininas.
Por consequente, o autor tem a preocupação de não criar falsas ideias na cabeça das crianças, isto uma vez que estas quando são mais pequenas, são bastante preconceituosas em relação às coisas que vêm no dia a dia. Logo, pelo facto de a avó e a Chapeuzinho terem sobrevivido, este acontecimento é comparado pelo autor à simulação de um parto cesariano, transmitindo às crianças que nada de mal acontece às mães após o parto.
Por fim, Bettelheim enfatiza a importância dos contos de fadas para ajudar as crianças a lidar com as suas emoções mais profundas e complexas de forma simbólica e metafórica, contribuindo de forma segura na exploração de temas difíceis como medo, a perda e o despertar sexual.
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